COMO O ABA PODE AJUDAR DENTRO DA SALA DE AULA

As técnicas simples e eficientes apresentadas abaixo podem ser utilizadas por qualquer professor, tanto o de uma sala pequena como um de uma sala com 50 alunos. Não precisa de horas de preparação em casa ou horas extras. Requer apenas paciência, um olhar apurado e uma vontade enorme de ajudar o seu aluno nas pequenas conquistas.

1. Coloque uma lista com todas as atividades que serão feitas durante o dia na lousa com seus respectivos desenhos. Isso ajuda a diminuir a ansiedade. Por exemplo, se no primeiro horário do dia será realizado um exercício de matemática, escreva a palavra matemática num cantinho do quadro e faça um desenho de continhas ao lado da palavra ou prepare certos desenhos de antemão e, com velcro, prenda em feltro ou em papel, na borda do quadro. O uso de desenhos e figuras favorece o aprendizado dessas crianças que são fortes visualmente. Se necessário, o aluno deve ter também o horário visual na sua própria mesa ou na primeira folha do caderno. Essa disposição ajuda não só aos alunos com transtornos de desenvolvimento mas a todos os outros que poderão melhor se organizar durante as tarefas.
2. Seja conciso, claro e firme quando der a instrução de uma atividade. Como essas crianças são facilmente distraídas, muitas palavras podem confundí-las e tirá-las do foco. Não adianta dar um comando com várias sentenças para que ela o assimile e o execute. A professora pode ainda apontar para o horário feito e pendurado em velcro na margem do quadro, como também pegar o próprio livro de matemática e mostrá-lo na frente dos alunos. Seja específico e dê ao aluno alguns segundos para que ele processe a informação.
3. Faça elogios verdadeiros. Isso não significa que o professor deva fazer elogios a toda hora. Qualquer criança percebe quando um adulto não está sendo sincero. Se para um aluno aquela atividade vai ser muito difícil, fique por perto e, a cada passo que ele consiga fazer ou esteja mostrando interesse em tentar, aproxime-se, elogie a tentativa, ou dê somente um tapinha no ombro para que ele saiba que você está ali o apoiando. Elogios funcionam para todos e, para as crianças que têm dificuldade em alguma matéria ou até problemas de concentração, servem como motivação para seguir adiante. Até se a criança estiver fazendo uma letra bonita e caprichada ou estiver sentada numa postura correta, elogie.
4. Cuide para que a decoração da sala de aula não esteja visualmente poluída. Muita informação distribuída nas paredes pode distrair a atenção de todos.
5. Escolha um aluno para ajudar sua criança incluída na realização de tarefas acadêmicas. Isto vai ser fundamental para o desenvolvimento de relações sociais. Mas cuidado, não utilize sempre o mesmo aluno. O rodízio entre colegas é importante para não sobrecarregar uma só criança e promover a integração de outras na divisão de responsabilidades. Ou seja, um pode ficar encarregado de auxiliar nos exercícios de Ciências, outro nos de Português, outro na formação da fila, outro na aula de Educação Física, outro na ida da Biblioteca e outro ainda será capaz de incluí-la nas brincadeiras na hora do recreio.
6. Disponibilize jogos de tabuleiro e industrializados na hora do recreio. Como eles são mais previsíveis, as crianças se sentem mais a vontade em brincar porque as regras já são previamente conhecidas. E, como o número de jogadores é menor do que um jogo na quadra aberta da escola, essas crianças se sentem um pouco mais calmas, diminuindo a angústia que é, muitas vezes para elas, a hora do recreio.
7. Algumas crianças são extremamente sensíveis ao toque, a ruídos e a cheiros. Outros precisam ser estimulados através do tato e do som. Estude seu aluno com calma e tome algumas medidas para ajudá-lo. Tenha dentro do seu armário aquelas bolas de estresse ou aqueles brinquedos tipo porco-espinho para que o aluno recorra em momentos de ansiedade. É eficiente colocar areia numa meia ou encher um balão pequeno de água para que o aluno se estimule sensoriamente. Providencie um fone de ouvido se seu aprendente for muito sensível a ruídos. Peça a mãe para fornecer uma almofada se for mais fácil para que seu aluno sente na rodinha ou mesmo na cadeira. Compartilhe com os pais as dúvidas e peça sugestões, eles conhecem a criança a mais tempo que você. A família e a escola devem trabalhar juntas para o benefício do próprio aluno.
8. Faça uma plaquinha com um desenho que represente a frase: Preciso de um tempo. Lembre-se que, para essas crianças, é muito difícil obedecer a disciplina militar que ainda existe em algumas escolas. É essencial que os coordenadores, supervisores e diretores estejam de comum acordo e aprovem a medida, para quando encontrarem o aluno fora de sala, não acharem estranho. Deixe claro para o aluno que esses minutinhos de intervalo é para ele ir beber água ou ler um estorinha na biblioteca, estipule um objetivo.
9. Pergunte à família qual o interesse de seu aluno e use essa informação a seu (do professor e do próprio aluno) favor. Se a criança tem interesse em trens, dê exemplos com trens em todos os casos que puder, em problemas matemáticos, nas questões de Geografia ou ao mudar de ambientes dentro da escola. É interessante também manter em sala uma atividade que seu aluno goste muito: pode ser um livro favorito, um quebra-cabeça ou uma cartela de adesivos. Ensine a ele que primeiro deve fazer as tarefas e depois ele poderá realizar a atividade que mais gosta por alguns minutos. Cumpra sua promessa.
10. Como as crianças dentro do espectro autista não entendem regras sociais, estas precisam ser explicadas de forma explícita. Escreva estórias socias. De acordo com Gray (1994), estas são roteiros personalizados que ajudam o aluno a entender uma situação social, regular seu comportamento repetitivo ou até aprender novos conceitos sociais. Por exemplo, se seu aluno tem problemas com a hora do recreio, você pode criar uma estória numa folha de papel para que ele leia todo dia antes de ir para o recreio até ele internalizá-la. No título da estória deve constar o nome da criança e o roteiro pode ser simples assim: “Todos os dias nós vamos ao pátio da escola para brincar. Tem muitas coisas que eu posso fazer durante a hora do recreio. Eu posso descer no escorrega. Posso brincar de bola. Posso chamar um colega para brincar comigo. Eu fico feliz na hora do recreio”. Quando escrever a estória, use sempre a primeira pessoa no tempo presente do indicativo e utilizando desenhos após cada frase. Seja específico.
11. Incentive a contação de piadas quando estiver na rodinha ou até nos últimos dez minutos de aula. Crianças com transtorno invasivo de comportamento não entendem frases ambíguas, piadas, gírias ou adivinhas. Se o planejamento não permitir tempo para isso, separe um dia na semana apenas para que cada criança traga uma piada ou uma adivinha para contar para o resto da classe. Esse é um momento de descontração e relaxamento para todos e, mais que isso, você está ajudando seu aluno a se integrar mais facilmente no grupo de amigos.
12. Arrume no seu planejamento um tempo para discutir coisas simples como ética e inclusão. Você pode dividir a sala em grupos e fazer perguntas do tipo: “O que você faria se um estranho lhe oferecesse chocolate?”, “Você não foi convidado para a festa de seu vizinho. Como você se sente?” ou ainda “Você atende o telefone e a pessoa ligou o número errado. O que você diz?”. São perguntas simples que seu aluno autista vai ter dificuldade em responder, mas, uma vez trabalhando em grupos, todas as crianças serão capazes de refletir sobre o tema e você, como professor, poderá direcioná-las e listar, com elas, as possíveis respostas. Se no horário escolar, o aluno tiver uma matéria como ética ou religião, converse com esse outro professor, vocês poderão planejar juntos um programa bem interessante. Vale fazer desenhos para pendurar na sala como também produzir um livro coletivo e, quem sabe, esse projeto não serve para ser apresentado para os pais ou os colegas de outras séries. Use sua criatividade e mãos a obra!.
Ter uma criança especial dentro da escola não é só promover mudanças de estrutura física mas colocar em prática estratégias de ensino que promovam o aprendizado para todas as crianças.
Referências

. ALVES, F. Inclusão: novos olhares, vários caminhos e um grande desafio. Rio de Janeiro: WAK, 2003.
. BEYER, H. O fazer psicopedagógico: a abordagem de Reuven Feuerstein, a partir de Piaget e Vygotsky. Porto Alegre: Mediação, 1996.
. COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação: transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas especiais – volume 3. Porto Alegre: Editora Artmed, 2004.
. FONSECA, V. Pais e filhos em interação – aprendizagem mediatizada no contexto familiar. São Paulo: Editora Salesiana, 2002.
_______________. Educação Especial – programa de Estimulação Precoce: uma introdução às idéias de Feuerstein. Porto Alegre: Editora Artmed, 1995.
. FOXX, R. Increasing behaviors of persons with severe retardation and autism. USA: Research Press, 1982.
. GRANDIN, T. Thinking in pictures. New York: Doubleday, 1995.
. GRAY, C. The original social story book. Texas: Future Horizons, 1994.
. KOEGEL, L.K.; LaZEBNIK,C. Overcoming autism: finding the answers, strategies, and hope that can transform a child’s life. USA: Penguin Books, 2004.
. LOVAAS, I. Behavioral treatment and normal educational and intellectual functioning in young autistic children. Journal of Abnormal Child Psychology, v 20, p. 555-566, 1987.
. MAGALHÃES, R.(org.) Reflexões sobre a diferença: uma introdução à educação especial. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2002.
. SIGMAN, M.; CAPPS, L. Children with autism: a developmental perspective. London: Harvard University Press, 2002.
.STAINBACK, S. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre: Artmed,1999.

12 FATOS SOBRE O AUTISMO

1. O autismo é a desordem de desenvolvimento mais comum no mundo, afetando 1 em cada 150 crianças;
2. O autismo é 4x mais freqüente em meninos que meninas, sem restrição de raça, etnia ou situação sócio-econômica;
3. O autismo é definido e diagnosticado através de observações comportamentais;
4. O autismo é uma sindrome e como tal aparece num espectro de nível do mais leve para o mais severo;
5. O autismo aparece antes dos 30 meses. Algumas características são: falta de contato olho no olho, intolerância a toques, falta de atenção aos outros, “aparenta surdez”, deficiência na linguagem e socialização, resistência a mudanças e pouca atenção;
6. Aproximadamente 60, 70% dos autistas tem um nível de retardo mas isso não reflete a real inteligência dessas crianças já que os teste de inteligência são estandartizados;
7. 1/3 dos autistas desenvolvem convulsões na adolescência;
8. Não existe uma causa para o autismo. Algumas pesquisas apontam a genética, biologia e components ambientais.
9. O único tratamento cientificamente comprovado para o autismo é a terapia de mudança de comportamento;
10. É aconselhável a terapia quando a criança é pequena porque o cérebro dos pequenos é plástico e permite uma aprendizagem maior.
11. Não existe cura para o autismo.Contudo algumas crianças apresentam progressos significativos com o tratamento. O progresso varia de indivíduo para indivíduo. Algumas crianças passam desapercebidas numa classe regular.
12. Indivíduos com autismo tem uma boa expectativa de vida.