Qualquer pessoa que tenha ido às
minhas apresentações sabe que, na minha opinião, problemas sensoriais é uma
causa provável de problemas de comportamento em crianças com autismo. Eu mesma
tenho muitos problemas sensoriais e o que afeta mais é em relação à audição.
Quando eu era criança, o barulho
do sino da escola machucava meus ouvidos, parecia o barulho do dentista. Isso é
comum na população de autistas. Os sons que mais comumente machucam são os bem
agudos, sons interruptos como
alarme de bombeiro, detectores de fumaça, alguns toques de celular ou então os
testes feitos com microfone. Uma vez que a criança associe a dor com alguns
sons, ela não vai esquecer tão cedo. Subsequentemente, uma criança talvez apresente uma birra e se recuse a
entrar num certo cômodo porque talvez tenha medo de que o alarme dispare ou que
aquele barulho ruim aconteça outra vez. Mesmo que isso tenha acontecido alguns
meses atrás, ou mesmo somente uma única vez, a criança talvez reaja para que
não passe por aquele sofrimento outra vez.
Às vezes a sensibilidade ao som
pode ser desensibilizada gravando o som irritante e permitindo que a criança
ouvir o som e, gradativamente, com mais frequência, aumentando o volume.
Problemas com som são bem
variáveis. Um som que irrita o ouvido de um criança pode ser atraente para
outra. Pais e profissionais precisam ser bons detetives e observar as pistas da
criança sobre que sons são mais problemáticos.
Detalhes auditivos
Apesar de as crianças e os
adultos com TEA poderem facilmente passar num teste auditivo básico, eles
frequentemente têm dificuldades para ouvir alguns pedaços de som.
Quando eu era criança, eu
conseguia ouvir o que as pessoas estavam dizendo quando elas falavam
diretamente comigo, quando adultos falam rápido parece coisas sem sentido. Tudo
que eu conseguia ouvir eram vogais e, eu pensei que os adultos tinham sua
própria linguagem. Crianças que são não verbais talvez só escutem vogais e não
consoantes.
Minha fonoaudióloga me ajudou a
ouvir as consoantes falando-as bem devagar. Ela segurava uma xícara e dizia
XXXXÍ-CCA-RA. Ela alternava entre dizer “xícara” de um jeito normal e bem
devagar. Se tivesse muito barulho de fundo, eu tinha dificuldades em ouvir.
Fazer contato olho-no-olho era muito difícil para mim em lugares barulhentos
porque atrapalhava minha habilidade de ouvir. É como se as minhas conexões neurais só
deixassem um dos sentidos funcionar ou outro, mas às vezes, os dois na mesma
hora.
Em lugares barulhentos, eu tinha
que me concentrar em ouvir. Algumas crianças, se as palavras forem cantadas em
vez de faladas, pode ser melhor. Quando eu era pequena, nós fazíamos muitas
atividades musicais.
Quando adulta, fiz muitos testes
auditivos e fiquei chocada o quão ruim foi minha performance. Palavras como “salva-vidas”e “lâmpada” (no inglês, life boat e light bulb)
eram misturadas. Eu também não fui bem no teste auditivo de gêneros, onde um
homem fala num ouvido e uma mulher no outro. Contudo os meus ouvidos estavam
normais nos testes. Eu tinha dificuldade para discernir entre dois sons curtos
que eram colocados juntos. Pessoas típicas conseguem discriminar qual som tem
um agudo alto e, consequentemente os seus cérebros registram dois sons. Eu não
conseguia fazer isso porque os sons se juntavam.
Pais e professores que trabalham
com crianças diagnosticadas no espectro precisam ficar atentos a essas dificuldades
de processor sons. Às vezes o comportamento de uma criança pode ser diretamente
o resultado da falta de habilidade de processar os sons, ao invés da de birras.
Imagine como
você funcionaria (ou não) se você ouvisse apenas partes das palavras, só vogais
ou apenas alguns sons. Quantas informações relevantes você perderia todo o dia,
toda hora, todo minuto?
Uma criança que tem dificuldade
para ouvir todas as informações em detalhes, vai se beneficiar de suportes
visuais, como
palavras escritas em flashcards, instruções por escrito ou tarefas por escrito.
Essa criança talvez precise ouvir e ler a palavra ao mesmo tempo para que processamento
da informação ocorra.
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